“O Programa Prosseguir tem como finalidade evidenciar futuras lideranças negras que estão nas universidades públicas e privadas, por meio de estratégias de fortalecimento e permanência acadêmica até a conclusão exitosa da graduação, além de estabelecer diálogos e pontes com o mercado de trabalho.
São 60 bolsas de estudos para universitários negros nas regiões metropolitanas de São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro, no valor de R$600,00. Além da bolsa, o estudante participará de programa de fortalecimento de liderança e preparação para o mercado de trabalho, além de diálogos sobre equidade racial no trabalho e curso de inglês. As atividades da terceira edição do Programa Prosseguir ocorrerão entre os meses de fevereiro e dezembro de 2021.
O programa focaliza não só a transformação da vida dos participantes, como também sinaliza para a sociedade a importância de políticas públicas e institucionais de equidade racial e diversidade.”
“O Prospecta UFPE do Instituto Futuro tem a missão de discutir e divulgar o que pensa a UFPE em relação a assuntos, temas, problemas fundamentais à existência humana, buscado fazer dialogar as ciências e as humanidades, diálogo que é raro ainda hoje no mundo acadêmico, na sociedade em geral. Em função dessa nossa responsabilidade, o Instituto Futuro da UFPE, neste mês da consciência negra, considera muito importante discutirmos a questão da injustiça social, da desigualdade racial a partir de um grande pensador, assim reconhecido no mundo todo, o grande pensador martinicano, psiquiatra, ensaísta e ativista político, Frantz Fanon.
Muitos estudos demonstram que o Brasil se nega a considerar os profundos abismos sociais que a Escravidão provocou, as profundas injustiças sociais que se perpetuaram desde então, desde antes da “abolição da escravatura” e continuando até os dias de hoje.
Diferente de outras regiões do mundo que estabeleceram leis de apartheid de diversos tipos, a sociedade brasileira foi especialmente hipócrita e cruel: a Constituição de 1824 não mencionava a palavra “escravo” ou “escravidão”, ignorando, de propósito, uma grande parcela da população do Pais, por um lado, mas por outro lado, proibindo crianças negras de irem às escolas. Houve uma lei que previa pena de morte apenas para escravizados, em 1835; também era proibido de professar as religiosidades de origem africana, enquadradas como magia negra e outros tantos adjetivos .
A determinação de que “todos são iguais perante a Lei” apenas deixou mais vulnerável a camada da população mais ignorada e desassistida, ao ser entendida como se vivesse em iguais condições de vida. Outras tantas leis, foram sendo aplicadas, no processo da historia social deste país que só aprofundaram as desigualdades, aumentou o sentimento de injustiça, deseducou as pessoas desde tenra idade, ao negar-lhe esse conhecimento, essa consciência. Agora, tantos séculos de injustiça passados, começamos a conhecer movimentos estruturados contra todo esse percurso de vergonha humana e eles precisam crescer. Vemos com alegria a UFPE inaugurar no dia 20 deste mês de novembro, seu .Núcleo de Politicas de Educação das Relações Étnico-raciais e ter, desde 2017, um Instituto de Estudos de África.
Nesses dias de Novembro, mês da consciência negra, em que devemos reforçar a necessidade de que o País consiga, num futuro bem próximo – evitar que o racismo siga injustiçando a maioria do povo brasileiro, convidamos todos a participar conosco desse momento de reflexão sobre um pensador que pautou sua vida na luta contra a divisão do mundo em opressores e oprimidos; na luta contra o condicionamento do negro pelo branco, contra a desumanização dos povos indígenas, e que escreveu livros fundamentais sobre o racismo. Também, para discutirmos a sobre a importância de a UFPE ter uma Cátedra com o nome Frantz Fanon. Uma luta que está em curso já a mais de um ano, encabeçada pelo professor Alexsandro de Jesus, do Departamento de Antropologia e Museologia da UFPE, uma cátedra que precisa ser reconhecida e um pensador que precisa ser estudado desde dentro da UFPE, e fazê-lo ecoar na Sociedade.
É este grande pensador e ativista político que vamos discutir, no dia 25 de Novembro, na próxima quarta feira, às 16 horas, com a palestra do professor Alexsandro de Jesus e os comentários do professor Vico Melo, professor da UFPB.
Compareça, contribua!
O professor Alexsandro de Jesus Silva Doutor em Sociologia, professor associado do Departamento de Antropologia e Museologia e membro do Comitê de Ética em Pesquisa da UFPE;
O professor Vico Melo é bacharel em Relações Internacionais pela UFPB, mestre em Ciência Política pela UFPE e Doutor em Pós-Colonialismo e Cidadania Global pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/UC).
“A Aliança Francesa de Belo Horizonte convida o filósofo senegalês Souleymane Bachir Diagne para a conferência online “O pan-africanismo de ontem e amanhã para uma africanidade transatlântica”. O encontro é em francês, com tradução simultânea, e acontece no dia 20 de novembro, às 19h, no YouTube. A palestra faz parte das atividades do Mês da Consciência Negra.
Professor dos departamentos de filosofia e de francês da Columbia University (EUA) e produtor uma imensa obra sobre as tradições filosóficas e culturais da África e do mundo islâmico, Diagne vem trazendo discussões do tipo em vários países, promovendo o pensamento crítico.
O evento é uma realização da Aliança Francesa de Belo Horizonte junto com a Embaixada da França no Brasil e da Federação Brasileira dos Professores de Francês.
Sobre o palestrante
Nascido em Saint-Louis, Senegal, em 1955, Souleymane Bachir Diagne é professor de filosofia na Columbia University em Nova York desde 2008, onde dirige o Institute of African Studies. Formado em filosofia e matemática (formação na École Normale Supérieure na rue d’Ulm e na Universidade de Paris IV-Sorbonne em Paris), é considerado um dos maiores pensadores africanos contemporâneos.
Em 2004, a revista Le Nouvel Observateur selecionou-o entre os “25 grandes pensadores de todo o mundo” e a revista Jeune Afrique em 2007 entre as “100 personalidades que fazem a África”.
Antes de Nova York, ele ensinou filosofia por vinte anos na Cheikh Anta Diop University em Dakar, Senegal, e depois por oito anos na Northwestern University em Chicago. Sua pesquisa e ensino se concentram na história da lógica matemática, na história da filosofia, na filosofia do Islã e nas religiões, tradução, teorias pós-coloniais, bem como questões de literatura e filosofia em África.
O seu livro “BERGSON POS COLONIAL: O ELA VITAL NO PENSAMENTO LEOPOLD SEDAR SENGHOR E MUHAMMAD IQBAL” esta traduzido para o português e publicado pela editora Cultura e Barbárie. Este livro foi coroado em 2011 na França com o Prêmio Dagnan-Bouveret da Academia de Ciências Morais e Políticas, ano em que também obteve o Prêmio Edouard Glissant da Universidade de Paris VIII por toda sua obra.
Ele é membro associado da Royal Academy of Belgium e da American Academy of Arts and Sciences.”
Volvidos cerca de 45 anos da obtenção das suas independências, os Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) estão sendo atravessados por uma vaga de revisionismo historiográfico que abre novas chaves de leitura sobre o período crucial das lutas pelas independências levadas a cabo em Guiné-Bissau e Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola, assim como sobre o processo de descolonização por parte do governo português liderado pelo General Spínola e depois pelo General Costa Gomes, imediatamente depois do 25 de Abril de 1974. Uma tal tentativa de releitura do recente passado está ocorrendo apesar de enormes dificuldades, derivantes basicamente de um clima político não favorável a tais iniciativas, pelo menos naqueles países dos PALOP cujo nível de democracia real continua baixo e em que nunca houve alternância de governo, entre os quais os dois maiores, Angola e Moçambique.
No caso dos PALOP, o lema de que “a história é escrita pelos vencedores” representa uma realidade concreta, que moldou toda a historiografia oficial, principalmente graças ao fato de que todos esses países passaram por uma experiência de adesão ao marxismo-leninismo, com regimes a partido único, que adotaram uma versão da história linear, apologista e unilateral, desconsiderando complexas dinâmicas internas aos movimentos de libertação, que ficaram assim quase que completamente negligenciadas.
Pelo contrário, em todos os PALOP existe uma “outra história”, que inicia de uma necessária reconsideração do processo de descolonização levado a cabo pelo governo português de Salvação Nacional, e termina com possíveis opções políticas “alternativas” que entretanto foram apagadas – por vezes, como no caso de Moçambique, de forma extremamente violenta – e que, apesar da introdução, na década de 1990, do multipartidarismo, da liberdade de expressão e de imprensa, até hoje continuam amplamente ocultadas e incapazes de competir com a historiografia oficial e suas versões de frequente “míticas” e construídas a partir de fontes duvidosas.
Por isso julgámos que tenha chegado a hora de repensar na fundação e na evolução das independências dos PALOP, usando fontes alternativas, quer orais, quer documentais, hoje em parte disponíveis, abrindo assim um debate historiográfico sério e desprovido do pendor político e ideológico que o tem caraterizado até hoje. O período que o dossiê considera mais crucial é o das lutas de libertação, assim como dos primeiros anos das experiências socialistas dos PALOP, em que se construiu a historiografia oficial e em que os regimes socialistas expressaram a sua face mais dura.
O presente dossiê tenciona portanto refletir sobre o pós-colonial nos PALOP, convidando os autores a propor artigos sobre assuntos inovadores e desafiadores, tais como, a mero título de exemplo:
A descolonização portuguesa e seus impactos nos movimentos de libertação, com um foco especial nas dinâmicas internas a tais movimentos;
A revisão do “mito fundador” que os vários PALOP criaram e difundiram, tornando-se história oficial, mas sem o uso de fontes fidedignas;
A revisão da componente militar da luta pela independência e a importância que esta teve no resultado final;
A relação entre adesão ao marxismo-leninismo e direitos humanos, principalmente no que diz respeito aos direitos políticos dos opositores;
A revisão de figuras que a historiografia oficial tem classificado de “reacionárias” e “antipatrióticas”, mas que hoje estão merecendo uma abordagem mais crítica e uma reinserção na história dos vários PALOP;
As datas, os símbolos, os heróis da história oficial diante a sua revisão crítica na construção da identidade nacional;
Os processos de exclusão de grupos étnico-linguísticos ao longo do processo de lutas pela independência nacional e da formação do Estado-nação;
A questão das fontes usadas pela historiografia oficial e seu questionamento;
A comparação entre os vários PALOP no que toca à experiência da luta de libertação nacional.